O que são as abstrações do pensamento humano?

Dr. Rafael Higashi

A resposta sobre o que seria as abstrações do pensamento humano inicia-se com a filosofia na Grécia antiga com Platão (428 – 348 AC) ao buscar a compreensão do que seria os conceitos universais (ex: justiça, homem, coragem e etc), ou seja, as abstrações, a qual Sócrates (470-399 AC), seu professor, buscava como forma de conhecimento. Platão defendia que estas abstrações eram entidades reais de outra dimensão (arquétipos) e que as coisas concretas são reflexos imperfeitos em nossa mente. Aristóteles (384 -322 AC) em seguida, defendeu que as abstrações existem apenas em coisas concretas na forma de essências metafísicas. Na filosofia pós-moderna, século XVIIII e XX, as nominalistas defendem que abstrações são meramente nomes que damos a grupos arbitrários de coisas concretas através de uma vaga semelhança.

A importância do conhecimento humano não é trivial, ela é o catalisador entre o sucesso ou fracasso do ser humano e consequentemente o sucesso ou fracasso da humanidade. Conhecimento é a compressão mental ou um produto mental de fatos que correspondem a realidade. Uma ideia sem realidade não é conhecimento (ex: unicórnio). O homem não é infalível nem omnisciente pois caso fosse, o conhecimento seria automático, sua natureza é volitiva, por isso ele precisa de um método para validar e adquirir conhecimento.

Até 1966 as abstrações ou conceitos, eram então, explicadas como reais de outra dimensão (Platão), concretas, nas coisas em si (Aristóteles), ou arbitrárias, por convenção humana (nominalistas), quando Ayn Rand (1905 a 1982) , filósofa, publicou a seu livro a Introdução a Epistemologia Objetivista e Teoria dos Conceitos aonde ela descreve o caminho para a formação das abstrações, ou seja, dos conceitos em nossa mente. A mudança radical vem do fato que ela descreve que os conceitos vem da relação da consciência humana com a realidade, ou seja, não são concretos, não estão em outra dimensão e muito menos são uma formação arbitrária.

Ayn Rand começa com o conceito de consciência humana: “A existência existe e o ato de assimilar esta informação implica em dois axiomas corolários:  de que algo existe, e alguém percebe, e que alguém existe em posse de consciência, sendo a consciência a faculdade de perceber que algo existe”.

Cronologicamente Ayn Rand descreve o desenvolvimento do conhecimento através da consciência humana em três estágios:  primeiro o das sensações (não retido na memória), seguido das percepção (retido, automático e neurológico) e finalmente o conceitual (volitivo e psicológico). “A função dos conceitos é estender do que o homem consegue manter o foco e reduzir a uma quantidade grande de informações em um número mínimo de unidades, expandindo o alcance da consciência humana além do perceptual”. O conceito segundo Ayn Rand é uma condensação de informações formado por um processo volitivo de acordo com o método de cognição humano através de processo ativo de duas essenciais: diferenciação e integração, ela define:  “O conceito é uma integração mental de duas ou mais unidades isoladas de acordo com uma ou mais características específicas e unidas por uma definição especifica”.

Rand explica que o conceito se forma por semelhança que é a relação entre duas ou mais existentes que possuem uma ou mais características em comum, mas em diferente medida ou grau e que esta  habilidade de relacionar entidades como unidades é o método distintivo de cognição do homem, que outras especieis vivas são incapazes de acompanhar, porque unidades não existem como unidades, o que existem são coisas, mas unidades são coisas vistas por uma consciência em certas relações com as existentes.

Ayn Rand compara a formação conceitual como um processo matemático de mensuração que é a identificação de uma relação quantitativa, por meio de um padrão que serve como unidade com objetivo de relatar uma unidade diretamente perceptível para o homem e expandir o alcance da consciência humana, de seu conhecimento, para alem do nível perceptual.  O processo de mensuração é um processo de integrar uma escala ilimitada de conhecimento à experiência perceptual limitada humana, um processo para fazer o universo conhecido ao trazê-lo ao alcance da consciência, estabelecendo sua relação com o homem (ex: distancia em pés, metros e quilômetros), ou seja, a formação dos conceitos depende da nossa mente reconhecer objetivamente uma relação matemática entre as existentes (concretos).

Epistemologicamente Rand explicita a formação dos conceitos como um processo de isolar mentalmente duas ou mais existentes por meios de suas características diferenciadoras, reter esta,  enquanto, omite-se suas medidas particulares, com base no principio que estas medidas devem existir em alguma quantidade, mas podem existir em qualquer quantidade e que as mensuração é a identificação de uma relação quantitativa, por meio de padrão que serve como unidade.  A característica comensurável é o denominador comum conceitual que são características redutíveis a uma unidade de mensuração relevantes que devam existir, em alguma quantidade, mas podem existir em qualquer quantidade, por meio do qual o homem diferencia duas ou mais existentes de outras existentes que a possuem. A característica diferenciadora de um conceito representa uma categoria especifica de mensurações dentro do denominador comum conceitual.

Ayn Rand declara que o princípio básico de formação de conceitos diz que mensurações omitidas devem existir em alguma quantidade, mas podem existir em qualquer quantidade, isto seria o equivalente ao principio básico da álgebra que declara que símbolos algébricos precisam ter algum valor numérico, mas podem ter qualquer valor. “Nesse sentido, a ciência perceptual é aritmética, mas a ciência conceitual é a álgebra da cognição” descreve Rand. No campo da cognição, conceitos executam uma função semelhante à dos números no campo da matemática, a função da proposição é semelhante à de uma equação, ela aplica abstração conceituais a um problema especifico. O propósito primário de conceitos e da linhagem seria de fornecer ao homem um sistema de classificação cognitiva e organização que permita que ele adquira conhecimento em uma escala ilimitada, isso significa: manter a ordem da mente humana e permitir que e ele pense. Quando os conceitos são integrados em um mais amplo, eles servem como unidades e são tratados epistemologicamente como se fossem um só concreto mental, lembrando que na realidade cada unidade representa um numero ilimitado de concretos. Quando um conceito são integrados em um outro mais abrangente o novo conceito inclui todas as caracteristicas de suas unidades constituintes, no entanto, suas características diferenciadoras são consideradas como mensurações omitidas e uma de suas características comum se tornam diferenciado do novo conceito (ex: mobilia, organismos). Quando um conceito é subdividido em outros mais restritivos, sua característica diferenciadora é retida e lhe é dado um rol mais restritivo de mensurações especificadas (ex: profissão ).

Em suma, Ayn Rand segue a tradição Aristotélica da lei da identidade (A é A) e a lei da causa e efeito como base do conhecimento mas avança no sentido de que coloca a consciência humana como o organizador das informações da realidade, isto seria impossível, sem a nossa capacidade humana conceitual que depende da nossa capacidade humana racional que é um processo ativo e volitivo de pensar para não contradizer nossas conclusões passadas com as informações atuais tendo como base hierárquica nosso perceptual (realidade).

Autor: Rafael Higashi, médico (52.74345-3) , mestre em medicina, neurologista (RQE: 13728) e nutrólogo (RQE:19627) da Clínica Higashi.

Referências bibliográficas:

  1. Objetivismo: Introdução à Epistemologia e Teoria dos Conceitos (1966). Ayn Rand
  2. Objectivism: The Philosophy of Ayn Rand (1991). Leonard Peikoff
  3. How We Know. Epistemology on an Objectivist Foundation (2014). Harry Bisnwager.