Aplicação da estimulação magnética transcraniana nos transtornos de ansiedade

Aplicação da estimulação magnética transcraniana (EMT)  nos transtornos de ansiedade

Dados do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) mostram que 12% da população sofre de ansiedade, a porcentagem representa quase 24 milhões de brasileiros. Por definição, ansiedade é a resposta adaptativa normal do organismo ao estresse. Há casos, porém, em que se torna incapacitante e patológica, apresentando-se de forma desproporcional – o medo de estímulos rotineiros como andar de ônibus, por exemplo. Entre os transtornos ansiosos mais comuns estão o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), de pânico (TP), de estresse pós-traumático (TEPT), de ansiedade generalizada (TAG) e de ansiedade social (TAS).

Veja a definição dos principais tipos de transtornos ansiosos:

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os chamados transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preo­cupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as obsessões. Dentre as obsessões mais comuns estão a preocupação excessiva com limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Um outro exemplo são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão).

O transtorno do pânico (TP) se caracteriza pela ocorrência repetida e inesperada de intensas crises de ansiedade com muitos sintomas físicos, levando os pacientes a procurarem vários especialistas até que seja feito o diagnóstico. O Transtorno do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos, é igualmente prevalente entre homens e mulheres, portanto, em sua maioria, as pessoas que tem o Pânico são jovens ou adultos jovens, na faixa etária dos 20 aos 40 anos, e se encontram na plenitude da vida profissional. Normalmente são pessoas extremamente produtivas, costumam assumir grandes responsabilidades e afazeres, são perfeccionistas, muito exigentes consigo mesmas e não costumam aceitar bem os erros ou imprevistos.

O transtorno por estresse pós-traumático ou TEPT, é um transtorno psicológico classificado dentro do grupo dos transtornos de ansiedade, que ocorrem como consequência da exposição a um evento traumático.

O Transtorno da ansiedade generalizada (TAG) é um sentimento desagradável, vago, indefinido, que pode vir acompanhado de sensações como frio no estômago, aperto no peito, coração acelerado, tremores e podendo haver também sensação de falta de ar. É um sinal de alerta, que faz com que a pessoa possa se defender e proteger de ameaças, sendo uma reação natural e necessária para a auto-preservação. Não é um estado normal, mas é uma reação normal, esperada em determinadas situações. As reações de ansiedade normais não precisam ser tratadas por serem naturais, esperadas e auto-limitadas. A ansiedade patológica, por outro lado caracteriza-se por ter uma duração e intensidade maior que o esperado pra a situação, e além de não ajudar a enfrentar um fator estressor, ela dificulta e atrapalha a reação. O transtorno de ansiedade generalizada costuma ser uma doença crônica, com curtos períodos de remissão e importante causa de sofrimento durante vários anos

O Transtorno da Ansiedade social (TAS) Caracteriza-se pelo medo de se expor ao olhar e ao julgamento das outras pessoas, mesmo em grupos relativamente pequenos. Esse temor pode fazer com que a pessoa passe a evitar situações sociais. O medo e a preocupação ocorrem de forma excessiva e exagerada em situações nas quais a pessoa receia ser alvo do julgamento de terceiros. É como se estivesse sendo julgado pelo que faz, ou mesmo pela possibilidade de que percebam suas fraquezas ou mesmo o seu estado apreensivo. Quem tem fobia social pode ter medo de falar, comer, telefonar, trabalhar ou escrever ou na frente de outras pessoas; pode também ter o receio de agir de forma ridícula ou inadequada.
Em seus variados graus de acometimento, o TAS é uma condição bastante frequente na população, com início geralmente na adolescência, afetando homens e mulheres em igual proporção. Quando não tratada, tende a persistir e causar prejuízos nos mais diferentes aspectos (no trabalho e na sua relação social ou familiar), levando a afastar-se das demais pessoas e a escolher atividades com pouca ou nenhuma interação social.

Estimulação Magnética Transcraniana no tratamento da Ansiedade:

Embora existam tratamentos eficazes e seguros com medicamentos e psicoterapia cognitivo comportamental, aproximadamente 25% de pacientes com transtornos ansiosos não respondem a eles. Dessa forma, com os avanços alcançados nos últimos anos em relação aos mecanismos neurobiológicos envolvidos nos transtornos de ansiedade, novas formas de intervenção têm mostrado bons resultados. É o caso da estimulação magnética transcraniana (EMT), desenvolvida há quase 25 anos pelo pesquisador Anthony Barker e seus colaboradores da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Hoje – quase três décadas depois – a técnica é considerada importante ferramenta para no campo da neuro-psiquiatria, pois é um método não invasivo de modulação da excitabilidade do córtex pois altera a atividade cortical por meio da produção de um campo elétrico induzido por um campo magnético gerado através de uma bobina colocada na superfície do crânio.

Considerando os circuitos cerebrais envolvidos nos casos de ansiedade patológica, estudos de neuroimagem vêm mostrando que, no TOC, são observadas anormalidades na atividade de estruturas corticais e subcorticais, como gânglios da base, córtex orbitofrontal (COF), área suplementar motora (ASM), córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) e núcleo caudado. Além disso, pesquisas sobre ressonância magnética funcional (RMf) correlacionam o TOC com o nível de fluxo sanguíneo regional cerebral, sugerindo que os sintomas são causados pela redução da inibição da atividade de circuitos corticossubcorticais e hiperexcitabilidade do córtex pré-frontal (CPF).

Já com relação ao transtorno de estresse pós-traumático, os estudos de RMf têm demonstrado anormalidades de atividade, particularmente no hemisfério direito, envolvendo o CPF, mais especificamente o córtex orbitofrontal (COF), o CPFDL e regiões límbicas, o que sugere a associação do TEPT com a hiperatividade da amígdala e hipoatividade no CPF.

O mesmo tem sido observado com relação ao transtorno do pânico, já que estudos de Rmf revelam o mesmo comportamento do CPFDL e da amígdala. No caso do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e de ansiedade social (TAS), os estudos com RMf mostram anormalidades na atividade tanto da amígdala quanto do CPF ventrolateral direitos. Além disso, no TAG foram observadas anormalidades bilateralmente no córtex insular, no estriado e em áreas límbicas.

Quando se fala em tratamento de transtornos de ansiedade, a estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) é considerada um método terapêutico novo, porém mostra-se eficaz em vários estudos. Um estudo por exemplo chefiado pela neuro-psiquiatra Chiara Ruffini, da Universidade Vita-Salute San Raffaele, na Itália, verificou em 2009 que a aplicação de EMTr de baixa frequência (1 Hz) no COF esquerdo por dez minutos reduziu significativamente os sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo por até 10 semanas após o fim do tratamento, com redução gradativa até 12 semanas do término.

Um estudo aberto realizado por Sachdev e cols. (2001) verificou o efeito terapêutico da EMTr em 12 pacientes portadores de TOC resistente, realizando 30 sessões de alta freqüência (10 Hz) aplicadas ao CPFD e CPFE. Observou-se resposta clínica significativa sustentada em cerca de um quarto dos pacientes estudados, com redução superior a 40% na escala Y-BOCS.Greenberg e cols. (1997) estudaram o efeito de uma única aplicação de EMTr de alta freqüência (20 Hz) ao córtex pré-frontal esquerdo (CPFE), direito (CPFD) e córtex occipital, em estudo aberto com 12 pacientes portadores de TOC. A intensidade das obsessões e compulsões foi medida antes, durante, após 30 minutos e após oito horas de cada uma das aplicações, feitas em dias diferentes para cada sujeito, houve melhora significativa na intensidade das compulsões, no grupo que recebeu tratamento realizado no CPFE.

Rosenberg e cols. (2002) avaliaram 12 pacientes com diagnóstico de transtorno do estresse estresse pós-traumático e depressão maior (DSM-IV) que foram submetidos a dez sessões de EMTr aplicadas ao CPFE. Os pacientes foram subdivididos em dois grupos, sendo que em cada paciente seria empregada uma freqüência de 1 ou 5 Hz. Foi observada uma melhora significativa no humor dos pacientes, mantida em um seguimento de dois meses.

McCann e cols. (1998) iniciaram a investigação das aplicações terapêuticas da EMTr para o transtorno de estresse pós-traumático com o estudo de dois casos, sugerindo a utilidade potencial de EMTr de baixa freqüência na normalização da hiperatividade metabólica paralímbica e frontal direita associada ao transtorno do estresse estresse pós-traumático.

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