Qual a relação entre Depressão e Doenças Neurodegenerativas? 

Pela primeira vez na história da humanidade pessoas acima de 65 anos vão superar indivíduos abaixo de 5 anos, ou seja, um envelhecimento acentuado da população, e neste contexto, tanto as doenças neurodegenerativas que envolvem o cérebro (ex: Doença de Alzheimer, a Demência por Corpos de Lewy, a Doença de Parkinson e a Demência Frontotemporal) e a depressão afetam mais esta faixa etária populacional, por isso, a importância do esclarecimento sobre este tema, além disso,  vale a pena lembrar um dos casos mais emblemáticos sobre este assunto foi a perda de um dos atores globais mais carismáticos da atualidade, o ator americano Robin Williams que cometeu suicido aos 62 anos, em outubro de 2014. Quando faleceu Robin Williams , tinha o diagnostico de depressão, no entanto, após a morte foi diagnosticado com uma doença neurodegenerativa chamado de demência por Corpos de Lewy , aonde estruturas proteicas anormais denominadas por corpusculos de Lewy,  se depositam no tecido cerebral causando degeneração e morte neuronal. Estes dois fatos apontam para a importância de compreendermos a relação entre a Depressão e as Doenças Neurodegenerativas.

São três aspectos fundamentais para compreender esta relação entre depressão e doenças neurodegenerativas: 

O primeiro é a relação de aumento da incidência entre ambas, por exemplo, quem tem doença neurodegenerativa cerebral tem mais chance de ter depressão, este fato, poderia ser lógico, pensando que o individuo pode ter limitações importantes na sua funcionalidade por este motivo teria mais depressão, no entanto, aproximadamente 1/3 dos casos de depressão com doenças neurodegenerativas ocorrem antes de qualquer limitação física ou mesmo antes do diagnostico da doença, o que é chamado pródromo, ou seja, antes mesmo de qualquer outra evidência clinica da doença neurodegenerativa. Para se ter uma noção de ordem de grandeza, 80% dos pacientes com Doença de Alzheimer tiveram, tem ou terão depressão e 50% dos pacientes com doença de Parkinson tiveram, tem ou terão depressão, além disso, a relação de incidência inversa também ocorre, ou seja, o aumento da incidência de doenças neurodegenerativas em pessoas com depressão, ou seja, quem teve depressão ou esta com depressão tem mais chance de ter doença neurodegenerativa cerebral.

O segundo aspecto é a correlação neurofuncional e neuroanatomica que ocorrem a nível cerebral entre ambas, depressão e doenças neurodegenerativas, que é uma diminuição metabólica da atividade neuronal de regiões como hipocampo, amídala, córtex entorrinal, estruturas do lobo frontal, gânglios basais e núcleo talâmico. Existem evidências que na depressão a diminuição metabólica da atividade neuronal destas estruturas cerebrais é acompanhado de uma diminuição de volume, o mesmo que ocorre, no entanto , em maior grau, levando o que é denominado atrofia,  nas doenças neurodegenerativas cerebrais.

O terceiro aspecto são que os mecanismos bioquímicos patológicos que ocorre na depressão  e também ocorrem nas doenças neurodegenerativas como a neuroinflamação, que gera um aumento de substâncias inflamatórios como as citocinas que levam a uma disfunção celular e consequente morte neuronal. Estudos demonstram que quanto maior a inflação crônica mais intenso é a depressão.

O segundo mecanismo bioquímico seria pela disfunção da via bioquímica das monoaminoxidases, que são relacionadas a síntese de  neurotransmissores como serotonina, dopamina , noraepinefrina e glutamato, a diminuição destes neurotransmissores estão relacionados tanto com a depressão como com as doenças neurodegenerativas, como exemplo a dopamina na Doença e Parkinson e na depressão , o Glutamato no Doença de Alzheimer e também na depressão. Um exemplo a medicação Selegelina tem ação antidepressivo e também ação na melhora motora da Doença de Parkinson. O terceiro aspecto bioquímico seria a semelhança na disfunção hormonal do eixo hipotálamo hipofisário que ocorre pelo stress oxidativo, relacionado ao aumento CRH e ACTH, gerando um estado de hipercortisolismo crônico, o que produz uma diminuição da neuroplasticidade cerebral, evidenciado pela diminuição da produção de substâncias denominadas de Fatores de Crescimento Neuronal Cerebral (BDNF).

Com tantas evidências, porque Robin Williams não foi diagnosticado corretamente? Ora,  Robin Williams dispunha de todas as condições de tratamento com os melhores profissionais do planeta, o que deu errado? Sua esposa Susan Schemeider Williams escreveu em 2016 para o Jornal da Academia Americana de Neurologia relatando desde de início como Robin Williams se sentia, do diagnóstico de depressão até o seu suicídio. Robin Williams apresentava queixas como constipação, dor abdominal, retenção urinária, insônia, perda do olfato, leve tremer na mão esquerda, crise de ansiedade, paranoia, perda da memória e flutuação cognitiva, todos estes sinais poderiam, sim, ter levado ao diagnóstico de demência por Corpos de Lewy, no entanto, isto não ocorreu, porque simplesmente não esta na mente do médico a depressão como fator de risco para doenças neurodegenerativas, principalmente com o envelhecimento. 

Autor: Rafael Higashi, médico (CRM: 74345-3), mestre em medicina, nutrólogo (RQE: 19627) e neurologista ( RQE 13728). Diretor Médico da Clínica Higashi Rio de Janeiro referência em neuromodulacão cerebral não invasiva e equilíbrio global da saúde.